Até pouco tempo atrás, isso parecia impossível. Essa ideia começou a mudar nos últimos tempos. Parece milagre, mas não é mais uma promessa milagrosa da internet.
As primeiras pistas de que o diabetes tipo 2 poderia ser reversível vieram dos resultados pós cirurgia bariátrica.
Essa cirurgia, nas suas várias técnicas diferentes, foi idealizada inicialmente para o tratamento da obesidade grave, conseguindo promover grande perda de peso. Mas o acompanhamento dos pacientes mostrou que a cirurgia consegue melhorar a homeostase glicêmica de maneira mais eficaz do que qualquer esquema farmacológico, causando remissão duradoura do diabetes em até 80% dos pacientes. A partir desses resultados, a cirurgia passou a ser chamada de cirurgia metabólica, porque se tornou uma opção terapêutica eficaz no melhor controle e (muitas vezes) reversão do diabetes tipo 2.
Os resultados foram tão bons que a indicação de cirurgia metabólica passou a ser considerada (e bastante pesquisada) em pacientes com obesidade grau I (IMC entre 30,1 e 34,9 kg/m2) com diabetes mal controlado apesar do melhor tratamento farmacológico e de intervenção de mudança de estilo de vida possível.
Mas esses resultados trouxeram a partir daí uma nova linha de pesquisa: qual o mecanismo da reversão do diabetes? Seria possível conseguir o mesmo resultado sem cirurgia?
Em 2011, a equipe de pesquisa de um diabetologista inglês, Professor Roy Taylor, da universidade de Newcastle, publicou um estudo (Counterbalance study) para provar essa hipótese. Eram só 11 pacientes, fazendo uma dieta de muito baixas calorias (Very Low Calorie Diet) que comprovou a possibilidade de reversão de DM2 . O mesmo grupo realizou, então, outros estudos, utilizando o mesmo protocolo de 8 semanas de dieta de muito baixas calorias, seguidas por reintrodução alimentar para manutenção do peso.
Um estudo maior, chamado “Diabetes Remission Clinical Trial (DiIRECT)”, recrutando um grupo maior de pacientes (pessoas com diagnóstico de diabetes de no máximo 6 anos, idade entre 20 a 65 anos e com IMC entre 27 a 45 kg/m2) e acompanhamento por mais tempo depois da intervenção, conseguiu comprovar a reversão de cerca de 36% do total dos casos que participaram do protocolo, sendo que essa porcentagem chega a 70% no grupo de pacientes que conseguiram se manter no peso depois de 2 anos.
Desse modo, ficou documentada a permanência de mais pacientes em remissão da doença por mais tempo.
*Esse estado de “remissão duradoura” do diabetes tipo 2 foi definido como:
Hoje está claro que a história natural do DM2 pode depender dos hábitos e dos depósitos de gordura visceral. Se ocorre perda de peso suficiente para normalizar a gordura intra-abdominal/visceral, o estado de “não-diabetes” pode ser atingido e mantido.
Assim, podemos dizer com segurança que o diabetes tipo 2 pode, sim, ser revertido.
O conjunto de evidências científicas até agora mostra que o melhor resultado para reversão do DM2 :
No maior desses estudos (DiRECT), o grupo que emagreceu mais do que 15% não teve um sucesso significativamente maior do que o grupo que emagreceu 15%.
É importante observar que que uma vez identificado o diabetes, não se pode usar a palavra “cura” definitiva para a doença. O uso do termo “remissão” parece ser bem adequado porque significa ausência de doença no presente, sem predição futura, semelhante ao que já é utilizado nos casos de pacientes com câncer depois do tratamento bem-sucedido. O acompanhamento periódico com avaliação clínica e exames laboratoriais continua sendo necessário.
Referências:
2 Comentários
O MEU DEU 129 MAS EU TINHA ACABO DE COMER UM LANCHE HAMBÚRGUER O QUE PODE SER ?
Oi, Fernanda, muito obrigada pela excelente pergunta: o valor de glicemia normal DE JEJUM é entre 70 e 99 mg/dl. Entre 100 e 125 mg/dl dizemos que a pessoa é pré-diabética. Mas esses valores são para o jejum. Depois de comer, o açúcar no nosso sangue aumenta, pela digestão e absorção dos nutrientes. O esperado, para quem não é diabético, é que fique abaixo de 140 mg/dl. E é isso que parece que aconteceu com você: depois de comer o hamburguer ficou 129. Parece que está tudo bem, não precisa se preocupar com esse valor porque não era jejum. Claro que vale reforçar que essa orientação não substitui a consulta médica, procure seu médico para uma avaliação clínica e orientação. Um grande abraço e continue acompanhando o blog!